A vida tem braços longos, espero que eles me segurem.
Era Janeiro de 1963, quando Johnny, apareceu e queixou de
tudo, de que eu nunca lhe respondia, de que entregava sua vida a mim, e eu nem
dizia palavra. E quando ele pensava ser a ele, eu dizia que nunca eram, tampouco
pra qualquer um. Seu último presente foi me apontar uma arma. “Johnny, não aponta essa coisa pra mim!”. Mas
ele engatilhou e atirou. E quando vi, estava morto bem ali no meu quarto. É que
não era eu. Era eu pra ele. Ele diz que ainda há pingos de sangue na arma e
sente o cheiro de chumbos nas mãos, mas está livre. É, é assim mesmo que
agimos.
Vejam, anos mais tarde, era Inverno e eu não tinha ninguém
para devolver as coisas que eu escrevia.
Eu permanecia a espreita no topo da torre de vigília, com ela, claro,
seu nome é Adriana; sem a simulação de afundar sono, nem dormir deveras, eu
espera as palavras aparecerem, caçando-as como borboletas. Essas cartas são
mosaicos de imagens mil, geralmente são músicas. Não é tão fácil quanto vocês
pensam. Eu uso a minha própria cola. Nem todas são boas, algumas só fazem as
frases grudar nos dedos e nunca ir pro papel. Outras fazem as coisas irem pro
papel da forma que você não quer, e ficam ali te olhando daquela forma
esdrúxula. É, tem gente que faz isso de qualquer forma, e colocam as coisas
esdrúxulas deles para olharem para as pessoas. Tem poesias e desenhos que eu
gostaria que tirassem os olhos de mim.
Tem vezes que eu gostaria que tirassem essa vida de mim.
E tem vezes que gostaria apenas de mudar minha vida a
qualquer preço, quantas pessoas ainda me apontarão armas na cara?
Será que Johnny sente saudades de mim? Um dia sentirei falta
dele.
E haverá tão somente a treva entre as estrelas.
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