“Entrar
na sua linha do tempo e ficar vendo seus posts é um dos meus passatempos
favoritos, nesse mundo online onde tudo é Clarice Del rey e Lana Falcão. Faz um
blog! Ou é muito mainstream?!”
É com
essa frase inspiradora de Zadorinha, que eu venho fazer a coisa mais perigosa
que se há de fazer na face da Terra. Criticar música.
Criticar
música é algo muito perigoso, pois vale lembrar a máxima “gosto é gosto”.
Exponho
meus preconceitos injustificados de entrada, Chico Buarque, não consigo gostar
de Chico Buarque; Caetano tem fases boas e fases tenebrosa, chegando ao ápice
de regravar Nirvana, banda cujo frontman me passa uma depressão tão profunda
quanto Lana. Não é este tipo de coisa que quero fazer aqui no momento. Acho que
deveria reinar um consenso absoluto de cada um pegar seu gosto e enfiar no cu,
pois seu gosto se impõe sobre o meu a todo momento! Você coloca seu carro em
frente a minha casa, você coloca o som alto, você não usa fone de ouvido no ônibus!
Então, criticar música é logo, acima de tudo, criticar a falta de respeito com
o ouvido alheio (alheio, para as mentes mais desavisadas é o que não é seu,
funk no ouvido alheio deveria ser considerado assédio, pois toca uma parte do
corpo de outra pessoa, sem o consentimento dela). Logo, como somos obrigados a
lidar com o gosto extremamente diversificado das pessoas, criticar música é, em
segundo lugar, criticar a massa uniforme de sonoridade a qual somos expostos
todos os dias. Não é meu objetivo julgar que rock é melhor que funk, eu não sou
A Razão. Dá-se conta agora de que ambos os defensores dos estilos aqui são
equivalentemente chatos pra caralho. Não é meu intuito menosprezar uma pessoa
que não está ouvindo Beethoven neste momento! Porque eu mesmo não gostaria de
estar ouvindo Beethoven, ou Bach, ou Chopin neste momento, pelo simples fato de
que prefiro Vivaldi e imensamente mais Mozart! Bem, quando eu sinto esta pena
das pessoas, eu, como herói, devo, claramente nos diz o bom senso, colocar
Queen of the Night no volume máximo, para que os vizinhos, OUÇAM MOZART! (e
sim, eu faço isso, em algumas culturas se chama Vendetta, vingança, dado que
eles me impõem sertanejo, funk e Avril Lavigne em domingos em que eu nem
acordei ainda, eu queria ter silêncio, nem as minhas próprias músicas eu queria
ouvir!)
Eis
que diante de toda esta mediocridade musical que nos impõem, surge na aceitável
MPB, uma baixa ralé, em um modelo obviamente americano, de meninotas meio
bobotontas, meio menina moça, selelepes, com músicas com um tom moderado de
humor, multi instrumentistas, que fazem coisas muito fofas com um violão,um
banjo, um cavaquinho, um ukelelê, um berinbal, uma arpa de eslasticos e caixa de
sapatos, uma vasoura com fios de nilon, todo e qualquer instrumento de cordas
popular nas mãos.
Claro,
há pouco tempo conhecemos o deslumbre Malu Magalhães, perfeito exemplo, que é
fã de Johnny Cash e Bob Dylan, todas essas meninotas querem ser Bob Dylan, mas
acontece, que Bob Dylan... já vem a ser Bob Dylan, desde de que ele nasceu. É a
mesma coisa que comprar um livro do Eike Batista, pensando que você vai ser
Eike Batista. As pessoas poderiam se contentar em ouvir Cash e Dylan de
uma vez, que já tem algumas músicas chatérrimas por sinal, não era preciso mais. Mas
não. Elas ouvem Malu Magalhães, que em perfeita ilustração da sua obra tem
aquela música Xylophones, todas essa meninas pra mim são como uma criança
autista tocando xilofone, no mais exuberante tédio que o ouvido pode
concatenar! Então surge um paralelo mais deprimente ainda lá fora a ser
seguido. Uma espécie de moça mais moça, não meninota, com vestidos longos, cara
de dona de casa cheia de lítio, uma mulher cujo psiquiatra entope de
antidepressivos e estabilizadores de humor, perdida em sua zumbilência ela gira
em torno de si mesma, e resmunga versos depressivos a serem compartilhados nas
redes sociais. Não nos bastasse Mallu Magalhães ter se tornado esta mulher, do
dia pra noite, os enlatados nos deram Lana Del Rey também. Coincidência?
E não
nos bastasse Mallu e Tiê, que só sabe dançar com você, ganhamos Clarice. Eu,
que já não achava que se possa ficar velha e louca aos vinte, que já não achava
que neguinho nenhum sacava a minha esquizofrenia, tive que me encontrar decidamente
negando que a sua loucura seja um pouco igual a minha! (percebam que riqueza
lírica! Que coincidência em tratar de patologias psicológicas inerentes a todo
ser humano! Que brilhantismo!)
Nossa
música, que pode por diversas vezes se orgulhar de tratar com recursos
lingüísticos muito mais superiores para suas letras, que muitas músicas
estrangeiras, que consegue, por vezes, usar de metáforas muito mais ricas, que o
inglês (não, o português não é superior às outras linguas pra expressão de sentimentos, é você que é burro que diz isso, você que não é bi, tri, quadrilingue, você que malemá sabe português que usa este argumento, eu disse POR VEZES), para frisar a fascinação por um olhar, que pode dizer além de look into
those angel eyes, that shinning bright and deep eyes, que este olhos são como
uma carícia donde a alma encontra seu mais profundo recôndito, onde, longe, se
colocaria ontem e hoje, e sempre, carente, olhar rente. Sim, pode se servir de
aliterações (esse jogo de palavras com terminações iguais repetidamente que
fiz), metonímias (substituir um termo por outro, como ao invés de ouvir
devolva-me, eu diga, vou ouvir Adriana), catacrese (substituição do verdadeiro
nome de algo por outro que não lhe é característico, como o pé da mesa, o dente
de alho) e sinestesia (usar de um sentido pra descrever o que não lhe cabe,
como "sentir com os olhos", "ver a cor da música"). Com todos esses recursos, que
eu confesso, gosto muito de ouvir Skank, por que encontro neles, e claro na
Adriana Calcanhoto, não bastante não ouvir Bob Dylan, não se pode ouvir
Adriana, Marisa, Bethânia, Gal Costa, Clara Nunes! Não, existe uma inovação, algo magnífico que bateram no liquidificador que vocês devem ouvir, gente! Assim
como não há contentamento em
ouvir Madonna , Michael Jackson, David Bowie ou Roisin Murphy,
por exemplo, inventaram Lady Gaga, e a intertextualidade dela com estes
artistas precedentes é obviamente descartável. As musas pop de hoje são muito
mais confiantes, decididas, elas colocam os pés abruptamente sobre uma cadeira
com muito mais ênfase! Beyoncé faz movimentos bruscos de pescoço de um lado pro
outro com muito mais imposição! A imposição de uma negra americana
re-sig-na-da!
Que
se deva ouvir só os clássico então? Tudo que é novo é chato? Ué, mas quem disse
que é novo? Por certo é chato. Isso é inegável.
Eu
tenho a mais densa preguiça de ouvir o que todos estão ouvindo. Eu, aliás,
começo achar intrusão certas recomendações, eu não recomendo minhas bandas a todo
mundo. Elas são só minhas, eu as achei! Vá procurar as suas! Síndrome do
underground? Não, se ta tocando David Bowie na novela, eu to pouquíssimo
preocupado, eu tenho uma síndrome de indivualidade, isso sim. Isso é outro
assunto. O que eu dizia mesmo era sobre a diversidade de gosto de vocês. Que
ouvem coisas iguaizinhas, e ainda recomendam que os outros também ouçam, quando
eles tem um ouvido pouco menos apurado, e não conseguem diferenciar, como
vocês, as nuances diversas destas músicas bobildas dessas folk babies. Que
ouvem Mallu, mas não ouvem Dylan. Era isso, não? Ou estou ficando velha e
louca?